Cambira
Em todas as Festilhas – Festa das Tradições da Ilha de São Francisco do Sul – a cambira tem sido uma das especialidades mais consumidas pelos presentes. Disputa o pódium com a linguiça da vagabunda e a sardinha recheada. Mas o que é? Quando vim para Joinville advogar, graças ao nosso (do Abelardo Ganacinha e meu) bom desempenho nas áreas trabalhista e previdenciária, fomos contratados pelos sindicatos portuários de Araquari (havia porto e bem movimentado) e de São Francisco do Sul. E numa das vezes em que fomos dar assistência ao pessoal da Babitonga, o Couto nos convidou para comer uma cambira. Que era?Abelardo Ganacinha, o fiel escudeiro por 36 longos anos, explicou: é uma tainha limpa, salgada e seca ao sol.
– Escalada? Como a nossa de Floripa!
– Igualzinha!
Quando Marcia e eu viemos morar na Ilha Encantada, pesquisei a origem e o preparo da pescada. Ela, Marcia, no Hotel Porto de Paz, hoje, criou e prepara com três receitas: cambira inteirinha, frita no óleo de oliva; cozida e desfiada com salada de batata; em filés pequenos com nata, cebola e maçã. Com uma das mais antigas preparadoras deste excelente prato, soube de toda a sua história.
Nos grandes lances, que se davam àquela época – hoje minguados –, ante a falta de gelo e geladeiras para guardá-las frescas, eram expostas ao sol em trempes de bambu sobre o mar, próximo à praia, depois de evisceradas. Era um processo inteligentemente prático e econômico: faziam reserva do pescado; o mar as salgava, ao ponto, com a evaporação; os insetos – moscas, principalmente – não as infectavam. Eram, então, milhares delas, guardadas até a próxima safra ou lance no período da desova e do corso. Neste período, vendiam, trocavam por outros artigos necessários ou as consumiam, simplesmente. Restou-me uma dúvida atroz.
– Donde o nome cambira?
Ela não me soube explicar e parti para a pesquisa, sem êxito. Aurélio, Houaiss; Aulette, Silveira Bueno, Google, nenhum me deu a resposta. Encontrei, até, cidades e pratos de culinária com o nome.
Não desisti e fui-me a mais diálogos, a fim de ver se descobria a origem do nome. Após dois anos e meio, descobri!
Quando lhe fiz a pergunta:
– Como vocês carregavam aquela quantidade enorme de tainhas secas para as carroças, carros ou, de canoa, pros mercados?
– Amarrando de três em três pelos olhos, “ca embira”.
CARLOS ADAUTO VIEIRA, JORNALISTA, ESCRITOR E VICE-PRESIDENTE DA ACADEMIA DE LETRAS E ARTES DE SÃO FRANCISCO DO SUL (ALASFS)
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